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UM FREUD POSITIVISTA... MAS NEM TANTO

  • Foto do escritor: Juliano Corrêa
    Juliano Corrêa
  • há 2 dias
  • 22 min de leitura

I am barred from the event

I really don’t understand the situation

So where’s the moral? People have their fingers broken

To be insulted by these fascists, it’s so degrading

 

“It’s No Game (No 2)” – David Bowie

 

 

PREÂMBULO

 

Este artigo pertence a perna do espaço em nosso estudo sobre o acaso, como já iniciamos com um texto anterior (CORRÊA, 2024).[1] Aqui, a noção de determinismo psíquico, e seu desenrolar óbvio, a sobredeterminação, é o foco da nossa atenção. Dessa forma, para podermos ter uma ideia mais precisa do que era e como era aplicado o determinismo psíquico, que Freud manteve como uma de suas leis por toda a sua obra, é imprescindível que conheçamos mais a fundo o seu ambiente científico de formação (e seus interesses diversos, como a filosofia, que ele insistia em desdenhar) que constituíram as bases das influências que forjaram o espírito científico de Freud e, consequentemente, a invenção da psicanálise.

Não trataremos o tema todo de uma vez só: primeiro, o “Freud cientista” (este aqui), depois, o “Freud privado” (outro artigo que virá na sequência). Obviamente, é uma separação didática, apenas para tentativa de organização do material, pois a vida pessoal e profissional de Freud se mistura de forma inapelável. Como Gay (2012) disse, não há como falar do homem Freud sem falar também da psicanálise, pois ambos se sobrepõem.

Assim, neste texto psicanalítico, veremos os posicionamentos, até certa medida contraditórios, de Freud quanto ao pensamento científico dominante em sua época: o positivismo. As “contradições” de Freud se tornam inteligíveis (também em nível pessoal, como veremos posteriormente) ao entendermos a complexidade da personalidade do pai da psicanálise: um homem aferrado ao método científico da sua formação e, ao mesmo tempo, um conquistador que deseja romper com os paradigmas vigentes, descobrir algo novo; um conservador e, ao mesmo tempo, um vanguardista.

Tais elementos não permitem, de forma alguma, inferirmos o acaso, seja na obra de Freud ou mesmo na psicanálise em geral; porém, são entendimentos essenciais mostrar que a lei do determinismo psíquico psicanalítico não se equiparava na prática ao determinismo exigido na ciência da época, justamente pelo teor inovador da psicanálise. Assim, abre-se de pensarmos sobre o acaso e construir uma linha de pensamento que demonstre o seu lugar, de fato, na psicanálise.

 

 

UM FREUD POSITIVISTA...

 

“Quando Freud estudou em Viena, os positivistas tinham o comando” (GAY, 2012, p. 52). Na década de 1840 um grupo de cientistas (muitos deles ex-alunos de Johannes Müller)[2] formou a Sociedade Física de Berlim. Esses jovens cientistas (na casa dos 20 anos) se comprometeram com a ideia de que não se encontram forças nos seres vivos que não existam nos objetos inanimados. Em outras palavras, não há no organismo forças ativas além das forças físicas e químicas comuns. Todos os fenômenos, incluindo os pertinentes à matéria viva ou mesmo inexplicáveis, podiam ser explicados em termos físicos: queriam relacionar a fisiologia e a física, fazer uma fisiologia que seguisse o espírito do mecanismo, o método científico-matemático. Da mesma forma, qualquer nova força inerente à matéria deveria ser redutível a componentes de atração e repulsão. Ali estava o núcleo da fisiologia do século XIX: materialismo, mecanicismo, empirismo, experimentação e medição (SCHULTZ e SCHULTZ, 1992; GAY, 2012).

Hermann von Helmholtz, Carl Ludwig, Emile du Bois-Reymond e Enst Wilhelm von Brücke formavam esse grupo histórico. Freud seria altamente influenciado por esse espírito mecanicista através, sobretudo, de Brücke, que seria seu professor (SCHULTZ e SCHULTZ, 1992). Talvez a maior influência sofrida por Freud em seus anos de faculdade em Viena, Brücke era o mais expressivo representante do positivismo radical[3] (MEZAN, 1998; GAY, 2012; CARVALHO e MONZANI, 2015; ROUDINESCO, 2016). Como o próprio Freud (1926/1996, p. 243) afirmou: “[...] Brücke, que teve mais influência sobre mim do que qualquer outra pessoa em toda a minha vida”. Seguindo o costume de nomear os filhos em homenagem a pessoas importantes de sua vida, Freud deu nome de Ernst ao seu quarto filho em homenagem ao inspirador mestre (GAY, 2012; ROUDINESCO, 2016). Freud teria estabelecido com o professor, além do pacto acadêmico, uma relação filial, vendo nele a autoridade paterna que não percebia em seu pai, o dócil Jacob (MEZAN, 1998, 2003; GAY, 2012; ROUDINESCO, 2016).[4] “[...] Brücke encarnava, juntamente com Helmholtz e du-Bois Reymond, a atitude positivista, que hoje em dia não goza de boa reputação, mas que em 1875 era o que havia de mais avançado em matéria de filosofia da ciência” (MEZAN, 1998, p. 286).

Entre 1876 e 1882, Freud trabalhou com Brücke em seu laboratório com imensa satisfação e admiração por seu mestre, que tinha grande poder de sedução, absorvendo seu espírito positivista materialista. Completamente inserido nesse ambiente e singularmente feliz com o trabalho junto ao adorado professor, Freud aplicou as ideias do catedrático de uma maneira que não seria aplaudido por ele, mas isso não diminui a sua reverência.


Para Freud, Brücke e seus brilhantes associados eram os herdeiros eleitos da filosofia. O enérgico desmentido de Freud de que a psicanálise não tinha uma visão de mundo própria e nunca poderia gerar alguma foi sua forma de render homenagem, anos depois, a seus professores positivistas: a psicanálise, conforme ele resumiu a questão em 1932, ‘é uma parte da ciência e pode aderir à visão científica do mundo’. Em suma, a psicanálise, como todas as ciências, dedica-se à busca da verdade e ao desmascaramento das ilusões. As palavras podiam ser de Brücke (GAY, 2012, p. 52).


Ainda que questionem o sucesso real e até mesmo a existência deste grupo de alunos de Müller, Carvalho e Monzani (2015) atestam como certa sua contribuição no campo experimental, levando a física para a fisiologia e, por consequência, deixando mais claro o caminho para a construção de uma psicologia dita científica. Foram vários autores que, de maneiras diferentes, em maior ou menor grau, fizeram a empreitada de ancorar a psicologia em princípios matemáticos, um paralelismo psicofísico, desde Leibniz, passando por Herbart.[5] Theodor Hermann Meynert, herdeiro da tradição anatomopatológica muito mais interessada em exames do que na terapêutica dos pacientes, grande mestre da psiquiatria de Viena, foi um dos que, na esteira e Herbart, tinha um “projeto” de psicologia fisiológica. “Meynert imprimiu sua marca na escola vienense de psiquiatria ao tentar fortalecer a ideia de que todos os fenômenos psicológicos reportam-se a um substrato orgânico” (ROUDINESCO, 2016, p. 55). Meynert foi professor de Freud por cinco meses em 1883, tendo-lhe causado grande impressão: “na verdade, a postura filosófica de Meynert só podia servir como confirmação e estímulo a Freud. Obstinado, aspirando a uma psicologia científica, Meynert era um determinista estrito que descartava o livre arbítrio como simples ilusão [...]” (GAY, 2012, p. 59).

Helmholtz, também influência confessa de Freud, não tinha exatamente o intuito de construir uma psicologia científica, mas teve crédito nas bases desses estudos devido aos experimentos que realizava aplicando a física à fisiologia: teria contribuído para o preenchimento de certo gap metodológico existente desde Kant para os que desejavam tal psicologia científica (CARVALHO e MONZANI, 2015). Outro nome de destaque nesse ambiente é o de Gustav Theodor Fechner. Sabemos que a fundação da psicologia como ciência moderna se dá a partir do estabelecimento do laboratório de Wilhelm Wundt, em Leipzig, em 1879, e da criação da publicação “Estudos filosóficos”, em 1881, que era o órgão oficial do novo laboratório experimental.[6] Sem questionar a justiça de seu papel como inaugurador, em razão do seu importante papel de organizador e aglutinador, assim como seu ímpeto de estabelecer uma nova disciplina, Schultz e Schultz (1992) destacam como Fechner foi um autor mais importante e anterior a Wundt (seu “Elementos de psicofísica”foi publicado em 1860). Mesmo renunciando a lembrança, Fechner ficou mais famoso por sua produção da psicofísica: como a própria palavra sugere, o relacionamento, quantitativo, entre os mundos físico e mental. Schultz e Schultz (1992) escrevem que o trabalho de Fechner sobre a relação quantitativa entre a intensidade do estímulo e a sensação foi comparável à descoberta de Galileu da queda dos corpos. Completam esse raciocínio lembrando que a dificuldade que a psicologia enfrentava para ser aceita como ciência desde que Kant postulou que a mesma não poderia ter seus fenômenos medidos ou submetidos à experimentação, vinha abaixo com Fechner: ele estava medindo a mente.

Pois Freud faz poucas referências a Wundt em sua obra,[7] e as que faz são indiferentes: nem como adversário, nem como alinhado teoricamente, nem o reconhecendo como fundador da tal nova psicologia. Já Fechner teve amplo reconhecimento: “Freud citou em vários dos seus livros o de Fechner, Elementos de Psicofísica, tendo derivado conceitos importantes (o princípio do prazer, a energia psíquica, o conceito topográfico da mente e a importância do instinto destrutivo) da obra de Fechner” (SCHULTZ e SCHULTZ, 1992, p. 326). Gay (2012) destaca que Freud apontava os textos de Fechner, que tinha em Brücke e Breuer grandes admiradores, como os únicos que lhe teriam sido úteis para as suas formulações, mais especificamente no que toca a natureza do prazer. Por último, numa lista que talvez pudesse ser ainda mais extensa, Sigmund Exner, assistente de Brücke que o substituiu, tornando-se professor e amigo de Freud, publicou, em 1894, um trabalho intitulado “Projeto para uma explicação fisiológica dos fenômenos psíquicos”. Interessado pela recente teoria do neurônio, trabalhava a relação da psicologia com o cérebro, propondo uma transferência de excitações entre os neurônios de acordo com a intensidade de energia presente nos mesmos: quando esta atingia certo limiar, era passada para o próximo. Sua teoria era puramente quantitativa do funcionamento do sistema nervoso abordando questões como memória, julgamento, percepção (GARCIA-ROZA, 2004; CARVALHO e MONZANI, 2015).

Isso tudo mostra como Freud estava profundamente inserido nas ideias do dia. Talvez a maior prova seja o fato de ele próprio ter escrito o seu projeto de psicologia cientifica. Por isso Garcia-Roza (2004) e Bezerra Jr. (2013) apontam que o “Projeto para uma psicologia científica” de Freud (1895/1996)[8] é uma obra que está totalmente adequada e seguindo os padrões da sua época. O “Projeto” se tornou público somente em 1950 como um rascunho, pois Freud não quis publicá-lo (quis, isso sim, destruí-lo), deixando-o inacabado. Sua divulgação aconteceu por causa de Marie Bonaparte, princesa da Grécia e da Dinamarca, amiga e ex-paciente de Freud.[9] As amizades de Freud tinham a características de serem muito intensas de amor e, no mesmo nível, estrondosas nos rompimentos. São vários os exemplos disso, como o próprio reconhece: “minha vida afetiva sempre insistiu em que eu tivesse um amigo íntimo e um inimigo odiado. Sempre me foi possível reabastecer-me de ambos, e não raro essa situação ideal da infância se reproduziu tão completamente que amigo e inimigo convergiram numa só pessoa” (FREUD, 1900b, p. 515). Com Wilhelm Fliess (1858-1928) não foi diferente. Fliess, um médico otorrinolaringologista com teorias um tanto excêntricas, foi o “outro” de Freud nesse amor arrebatador: era seu confidente não apenas em relação a torrente de ideias que estava tendo que culminariam na criação da psicanálise, mas também em relação a sua vida íntima. Ambos se reuniam (Fliess morava em Berlim) eventualmente para seus “congressos”, que eram encontros para discutirem questões científicas do que estavam produzindo e descobrindo. Além disso, a troca entre ambos acontecia por uma quantidade considerável de belas cartas (287 enviadas por Freud) entre 1887 e 1904, as quais Freud escrevia com grande afinco (FREUD, 1986). Infelizmente, após o ruidoso e triste rompimento, Freud destruiu sua correspondência com o ex-amigo, que não fez o mesmo. A mulher de Fliess, Ida Bondy, vendeu as cartas ao livreiro Reinhold Stahl e, posteriormente, Marie Bonaparte as comprou deste. Freud, ao saber disso e rever as cartas, dentre as quais continha o rascunho do “Projeto” que ele havia enviado para a apreciação do amigo, tentou infrutiferamente reaver o material para, obviamente, destruí-lo; porém, Marie Bonaparte, que já havia vencido a Gestapo para preservar os escritos, facilmente venceu Freud também.

O “Projeto” causou frisson quando veio à público (causa até hoje, mas talvez pelas razões erradas...). O motivo disso, além de ser um texto inédito descoberto de Freud, claro, foi que o conteúdo do documento mostrava, já naquela época, vários conceitos e concepções de sua obra que apareceriam, de outra forma e com outra linguagem, anos depois. “A importância do Projeto é exagerada por uns, que encontram nele o essencial da teoria psicanalítica, e minimizada por outros, que o consideram ainda um texto pré-psicanalítico” (GARCIA-ROZA, 1998, p. 42). Essa ambiguidade também era do próprio Freud conforme suas cartas: ora exaltando, ora desmerecendo o trabalho, como bem demonstra Bezerra Jr. (2013, p. 33-39).

Para além das paixões envolvidas, vejamos como se inicia o texto: “a intenção é prover uma psicologia que seja ciência natural: isto é, representar os processos psíquicos como estados quantitativamente determinados de partículas materiais especificáveis, tornando assim esses processos claros e livres de contradição” (FREUD, 1895/1996, p. 347). Alguém faria alguma objeção se este trecho fosse apresentado como sendo de Brücke, Exner, Fechner ou até mesmo do próprio Kant? Carvalho e Monzani (2015) afirmam que o laboratório de Brücke teria sido a principal influência para o “Projeto” de Freud: metodologia guiada rigidamente pelo atomismo, ao que Gay (2012) concorda, chamando a atenção para as metáforas mecanicistas de Freud, a linguagem da sua época, dos seus estudos com Brücke. A psicologia como ciência natural, a quantificação, o determinismo, objetivismo, materialismo, está tudo neste pequeno trecho citado acima, assim como no projeto que Freud empreendeu. Por isso, Gay (2012, p. 63) assevera que “ver Freud como um psicanalista em germe nos anos 1880 seria anacrônico”, devido aos seus interesses no laboratório em Viena e, posteriormente, sua inclinação para a psiquiatria. O autor também destaca outra característica do trabalho de Freud:


o projeto de Freud foi, com muita justiça, qualificado de newtoniano. Ele é newtoniano no seu esforço de submeter as leis da mente às leis do movimento, coisa que os psicólogos vinham tentando fazer desde meados do século XVIII. É newtoniano também ao buscar proposições passíveis de verificação empírica. Sua própria admissão de ignorância ecoa o estilo científico de Newton, sua celebrada modéstia filosófica (GAY, 2012, p. 96).


Meu leitor, se, por ventura, tiver uma posição sólida formada sobre o assunto poderia dizer: “ok, mas Freud rejeitou o ‘Projeto’ e, posteriormente, ele seguiu um caminho totalmente diferente, usando outra terminologia, afastando-se destes ‘projetos’ de sua época; portanto, não é justo tomar Freud como positivista com essa justificativa”. Eu concordaria. É um fato que Freud abandonou o “Projeto”, assim como a linguagem fisicalista e as bases neurológicas estão ausentes em “A interpretação de sonhos” (FREUD, 1900a/1996; 1900b/1996), ocorrendo uma substituição por uma visão mais psicanalítica propriamente dita que irá se desenvolver, uma linguagem própria, autônoma, além de também ser um fato que Freud abdicou do seu investimento. Contudo, não acho que há um afastamento completo do vocabulário utilizado, muito menos das crenças, por mais que eu reconheça a implementação de novidades. Os motivos reais que fizeram Freud recusar a publicação (e a própria finalização) do trabalho, nunca saberemos. Pode ser que ele simplesmente não tenha gostado do resultado! (Sabemos que ele teve essa atitude com outros materiais, como alguns dos artigos de metapsicologia que estavam planejados). Dentre as hipóteses que se levantam a respeito, uma é a de que Freud não desgostou de suas concepções exatamente, mas percebeu que não conseguiria levar a termo a proposta por uma “[...] limitação conceitual e tecnológica da neurologia de sua época” (BEZERRA JR., 2013, p. 41). Teríamos, então, um


[...] Freud, em que conviviam, de um lado, convicções epistemológicas profundas acerca da imbricação do psíquico com o somático e, de outro, observações clínicas inovadoras que resistiam a uma explicação em termos fisiológicos, e que o fizeram antecipar conceitos psicanalíticos (BEZERRA JR., 2013, p. 300).


Isso nos mostra um Freud dividido em duas “frentes”, tendo levado uma adiante, e deixado a outra em stand by, mas justamente este estado de estar “em espera”, não significa uma descrença quanto suas posições iniciais. Bezerra Jr. (2013) lembra trechos conhecidos que confirmariam essa condição, como, por exemplo, no texto sobre o narcisismo, onde Freud (1914/1996) imagina poder basear as descobertas psicológicas em estruturas orgânicas, e em “Além do princípio de prazer” (FREUD, 1920/1996), quando fala em uma substituição de termos psicológicos por químicos. O autor também recorda da correspondência com seu amigo perdido, de 22 de setembro de 1898, quando Freud (1986, p. 327) [Grifo meu] escreve que não tem “[...] a menor inclinação a deixar a psicologia suspensa no ar, sem uma base orgânica”, mas encontra terríveis dificuldades para encaixar o psicológico com o orgânico e, por isso, deve se comportar “[...] como se apenas o psicológico estivesse em exame”. Eu ainda acrescentaria uma passagem de um de seus últimos escritos, o também inacabado “Esboço de psicanálise”, no qual ele declara que “o futuro pode ensinar-nos a exercer influência direta [no paciente], através de substâncias químicas específicas, nas quantidades de energia e na sua distribuição do aparelho mental” (FREUD, 1940/1996, p. 196).

O que quero dizer com os excertos acima é que a associação de Freud ao espírito mecanicista de seu tempo foi verdadeira e se manteve ao longo de sua vida, nunca foi abandonada, sempre houve uma intenção nesse sentido, mesmo que ele pensasse que não seria capaz de realizar. “Freud jamais abandonou a premissa de que a vida anímica emerge da atividade do organismo, ou seja, de que a dinâmica do sistema nervoso é a base da atividade psíquica” (BEZZERA JR., 2013, p. 32). Eu fui formado em uma tradição psicanalítica, que é amplamente dominante, que remete, em sua maior parte, à herança francesa lacaniana, que preconiza um rompimento da psicanálise com a natureza, um antinaturalismo,[10]e nunca coloquei isso em dúvida até pouco tempo atrás (que bom, neste ponto, que as coisas mudam), mesmo lendo textos de Freud que não estavam de acordo com essa concepção. Nunca é bom termos confiança cega no que nos é passado; ao perdermos nossa capacidade crítica, perdemos qualquer possibilidade de fazer ciência, seja o que for que se entenda dela. Sob esse ponto de vista, todas as referências biológicas de Freud são apenas metáforas, talvez deslizes, ou mesmo parece que não existem! Interessante que as mesmas pessoas que agem assim, dão uma atenção capital a cada palavra usada por Freud em outras passagens. Lembro, novamente, o que o próprio Lacan (1985) disse: Freud não usa termos a esmo. Ora, teria de haver uma decisão se ele usa, ou não! Gay (2012) chama de desastrosa a teoria da sedução de Freud, na qual a histeria/neurose seria provocada por um abuso sexual real sofrido pela criança, e o abandono dessa teoria, na famosa expressão da carta para Fliess, “não acredito mais em minha neurótica” (FREUD, 1986, p. 265) [Grifo do autor], dando lugar ao campo da psicanálise por excelência (GARCIA-ROZA, 1998). Mas Freud renunciou, de fato, totalmente a teoria da sedução? Não há, no mínimo, resquícios desse pensamento na sua busca pela equação etiológica das neuroses e o desenvolvimento para as séries complementares, tal como vimo em texto psicanalítico anterior? (CORRÊA, 20024)? O que estou dizendo é que há um fundamento nessas tendências iniciais de Freud que não se perderam completamente com o passar dos anos, consequentemente, também em relação ao seu determinismo. Bezerra Jr. (2013, p. 71) escreve que “Freud era, antes de tudo, um cientista”. Eu acrescentaria: e um cientista da sua época. Porém, a situação é ainda mais complexa.

 

 

...MAS NEM TANTO

 

Não, eu não vou me vingar

Se você fez questão de vagar o mundo

Não vou descuidar

Vou lembrar como é bom e ao amor em render

 

“Pecado É Lhe Deixar De Molho” – Tribalistas

 

 

Sim, Freud era um cientista, mas “ciência para ele significava mais compromisso com a inquietação do pensamento do que expectativa de certeza do conhecimento” (BERZERRA JR., 2013, p. 69). O próprio nos dá provas disso, com tantas vezes nas quais questionou (e modificou) sua teoria. Só que esta “inquietação” fornece complementos para o que estamos averiguando.

O ensino universitário alemão daquela época oferecia grande liberdade ao aluno para escolher seus focos de estudo. E Freud se aproveitou disso. Entrou no curso de medicina da Universidade de Viena em 1873, com 17 anos. Já no ano seguinte (e, portanto, antes do seu vínculo com o laboratório de Brücke), inscreveu-se nos cursos de filosofia de Franz Brentano,[11] os quais frequentou pelos dois anos seguintes. Os cursos de filosofia que cursou não eram obrigatórios, além de terem sido os únicos opcionais que ele fez durante a faculdade. Em carta ao amigo e colega Eduard Silbertein, Freud ressalta que a eleição dos cursos de filosofia servia para um tipo de formação particular, não tendo relação com sua planejada futura carreira de médico (CATALDO-MARIA e WINOGRAD, 2013; GAY, 2012). Brentano teve participação importante na vida de Freud, inclusive indo além da sala de aula: através do professor, travou conhecimento com John Stuart Mill, traduzindo um volume das suas obras completas.

Também neste período, teve contato e ficou altamente impressionado com a obra do filósofo Feuerbach. E ainda há o caso com Nietzsche: em 1º de fevereiro de 1900, Freud (1986) escreve para Fliess contando, dentre outras coisas, que comprou obras de Nietzsche, mas que estas ainda permaneciam fechadas por “preguiça” de as ler. Irá dizer, mais tardiamente, em 1931, que evitou sua obra por medo de encontrar nela muito do que a psicanálise descobriu (e, assim, ter de dividir os créditos?), além de querer ficar imparcial para suas pesquisas. “Freud trava os escritos de Nietzsche como textos muito mais a se combater do que estudar” (GAY, 2012, p.62). Então, Freud fumou, mas não tragou. É isso, não?

Freud tinha interesse e gostava de filosofia. Em 2 de abril de 1896, escreve ao seu confidente: “quando jovem, eu não conhecia nenhum outro anseio senão o de conhecimentos filosóficos, e agora estou prestes a realizá-lo, à medida que vou passando da medicina para a psicologia. Tornei-me terapeuta contra a minha vontade” (FREUD, 1986, p. 181). Em que pese a observação que Gay (2012) faz, de que Freud perseguiu objetivos filosóficos a vida inteira, mas não os discursos vazios da metafísica, que desdenhava, mas o empirismo científico, que proporcionaria uma teoria científica da mente, esta “abertura” filosófica” parece fazer parte de uma liberdade criativa que ele aparentava buscar.


Pois a verdade é que não sou, de modo algum, um homem de ciência, nem um observador, nem um experimentador, nem um pensador. Sou, por temperamento, nada além de um conquistador – um aventureiro, se você quiser que eu traduza – com toda a curiosidade, ousadia e tenacidade que são características de um homem dessa espécie. As pessoas desse tipo, costumeiramente, só são estimadas quando alcançam êxito, descobre realmente alguma coisa; caso contrário, são descartadas à beira da estrada (FREUD, 1986, p. 399) [Grifo meu].


Salvo a dramaticidade (“ser descartado à beira da estrada”), esta carta à Fliess (a mesma na qual fala das obras de Nietzsche) é uma marca muito importante: Freud como um conquistador, um aventureiro. Não era um filósofo, disso todos sabemos. Mesmo assim, “antes de mais nada, é preciso dizer que se Freud não era um erudito em filosofia, não era tampouco um incauto”. Essa afirmação de Birman (2003, p. 49) é essencial, pois nos faz pensar por que Freud pregava muitas vezes ser um desconhecedor da filosofia? Juntamente com isso, visto o entusiasmo que teve por esse estudo, por que a filosofia era tão atacada nos seus textos? Birman (2003) nos lembra que as opiniões de Freud sobre a filosofia não foram sempre negativas; porém, os posicionamentos mais “positivos” são em número bem menor: podemos lembrar do uso de Empédocles em “Análise terminável e interminável” (FREUD, 1937/1996), Kant em “Além do princípio de prazer” (1920/1996). Na maior parte do tempo, quando Freud se ocupa da filosofia é para desqualificar (e afastar a psicanálise o máximo possível desse campo): “[...] Freud mantém sempre o discurso filosófico sob certa suspeita” (BIRMAN, 2003, p. 10) [Grifo do autor].

Em “Totem e tabu”, Freud (1913/1996) usa a filosofia a comparando com a paranoia, um sistema coerente, mas falso, “o que é uma forma de dizer, enfim, que o discurso filosófico não passaria de um delírio sistematizado, de características paranoides” (BIRMAN, 2003, p. 11). Já na sua conferência XXXV, sobre a Weltanschauung,[12] Freud (1933/1996) opõe a filosofia (e também a religião) à ciência. À primeira faltaria a empiria, pois é baseada em especulações dada sua vocação metafísica. Se não houvesse o peso da realidade externa para o estabelecimento do conhecimento e, por consequência, da verdade, “[...] poderíamos construir pontes tanto com papelão, como com pedras [...]” (FREUD, 1933/1996, p. 172). Em suma, a filosofia está mais referida à intuição e adivinhação, configurando-se, assim, numa Weltanschauung: ofereceria um sistema fechado, acabado, sem espaço para o questionamento de si. Pode-se imaginar, Freud situa a psicanálise no lado oposto, com a filosofia sendo tudo o que ela justamente se recusa a ser.[13]

Ora, nesse ambiente científico que tratamos, obviamente não há o mínimo lugar para a filosofia e suas “especulações metafísicas”. Todas as coisas desse tipo foram extirpadas do conhecimento “oficial”. Não deixa de chamar a atenção (a minha, ao menos) que Freud fica muito à vontade para citar publicamente influências como as de Brücke ou Fechner, mas não a de outros autores que não se encaixam nos procedimentos aceitáveis. É reconhecido o papel que inventores como estes tiveram, Mezan (2006) destaca que a filosofia de Freud é o determinismo absoluto de Helmholtz que lhe foi transmitido através de seus estudos com Brücke, mas estamos vendo que sua formação foi muito além do padrão. Carvalho e Monzani (2015) lembram que Stuart Mill teria influenciado muito Freud numa tendência empirista, e é referência feita em relação ao conceito de representação; contudo, Garcia-Roza (2004, p. 55) afirma que “[...] a se procurar na filosofia um autor capaz de patrocinar a concepção de representação-objeto tal como é definida por Freud, melhor seria recorrer a Brentano, ao invés de recorrer a Stuart Mill”. Só estou dizendo que Freud fez escolhas nesse sentido que não eram as únicas possíveis (e, às vezes, nem as mais adequadas para o que estava criando). Isso não é um acaso.

Além de problematizar, eu estou tentando equalizar certas questões, certas críticas nossas. Que Freud teve (teve!) interesse e adquiriu conhecimento de filosofia (mesmo sem se tornar um especialista) é uma coisa; outra, bem diferente, é deduzir uma base filosófica na psicanálise (ou exigir que se tenha um aporte filosófico para uma tese psicanalítica!). Isso não existe. Muito mais que a filosofia, Freud se utilizou, por exemplo, da literatura. De tudo isso, o que fica de importante, por enquanto, para nós é: ainda que fortemente adepto ao seu ambiente científico, Freud ampliou seus horizontes, mesmo sem fazer isso de forma tão declarada por vezes. Podemos pensar que ele tinha, como destacado por Bezerra Jr. (2013) acima, sua própria concepção de ciência, mais ligada a constante inquietação e busca. Um aventureiro, como ele próprio se denominou.

É inútil para os objetivos propostos aqui seguir mais nessa discussão (já temos o que se faz necessários para os nossos objetivos). Até porque enquanto uns podem se ouriçar e se melindrar com filosofias imaginárias, Freud tinha outros problemas, bem grandes e bem reais para enfrentar na sua caminhada. Uma grande pedra no seu sapato, como veremos no próximo texto psicanalítico.

 

 

REFERÊNCIAS

 

BEZERRA JR., Benílton. Projeto para uma psicologia científica: Freud e as neurociências. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013.

 

BIRMAN, Joel. Freud & a filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.

 

CARVALHO, Vitor Orquiza de; MONZANI, Luiz Roberto. Sobre as origens da concepção freudiana de ciências da natureza. Scientiae Studia. São Paulo, v. 13, n. 4, p. 781-809, out.-dez. 2015.

 

CATALDO-MARIA, Thiago Marcellus de S.; WINOGRAD, Monah. Freud e Brentano: mais que um flerte filosófico. Psico. Porto Alegre, v. 44, n. 1, p. 34-44, jan.-mar. 2013. Disponível em: <http://www.psi.puc-rio.br/site/index.php/2015-03-29-11-14-38/corpo-dopcente1/quadro-principal/item/345-monah-winograd> Acesso em: 21 jun. 2018.

 

CORRÊA, Juliano. Um simples erro editorial? 2024.

 

FREUD, Sigmund. A correspondência completa de Sigmund Freud para Wilhelm Fliess – 1887-1904. Rio de Janeiro: Imago, 1986.

 

______. (1895). Projeto para uma psicologia científica. In: ______. Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. I.

 

______. (1900a). A interpretação dos sonhos – primeira parte. In: ______. Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. IV.

 

______. (1900b). A interpretação dos sonhos – segunda parte. In: ______. Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. V.

 

______. (1913). Totem e tabu. In: ______. Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. XIII.

 

______. (1914). Sobre o narcisismo: uma introdução. In: ______. Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. XIV.

 

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______. (1926). A questão da análise leiga. In: ______. Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. XX.

 

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GAY, Peter. Freud: uma vida para o nosso tempo. 2.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

 

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POPPER, Karl. O realismo e o objectivo da ciência – 1º volume do pós-escrito à lógica da descoberta científica. Lisboa: Dom Quixote, 1987.

 

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SCHULTZ, Duane P.; SCHULTZ Sydney Ellen. História da psicologia moderna. 6.ed. rev. amp. São Paulo: Cultrix, 1992.



[1] Há também outro artigo publicado, da perna do tempo, sobre a Regressão: https://www.julianocorrea.com/post/a-regressão.

[2] Reza a lenda que esses cientistas fizeram um juramento com o próprio sangue, afirmando que as únicas foças ativas no organismo são as forças físico-químicas (SCHULTZ e SCHULTZ, 1992).

[3] Dominando o pensamento da época, o positivismo propunha “um sistema baseado exclusivamente em fatos objetivamente observáveis e indiscutíveis. Tudo o que tiver uma natureza especulativa, inferencial ou metafísica é rejeitado como ilusório” (SCHULTZ e SCHULTZ, 1992, p. 43). Segundo os autores, o empirismo e o materialismo (segundo qual todos os fenômenos, inclusive os da mente, poderiam ser descritos com base na física e na química) sustentavam a ideia do positivismo.

[4] Ainda que menos “badalada” que outras relações de Freud, foi através de Brücke que ele travou conhecimento com Joseph Breuer, sendo Charcot o substituto de Brücke na relação “transferencial” com o mestre, assim como Fliess teria sido adorado com as cores de ambos (GAY, 2012).

[5] Sobre as tentativas destes criadores, e a relação com Freud e a psicanálise, o leitor pode encontrar ricas informações no artigo de Carvalho e Monzani (2015, p. 785-790), assim como nos livros de Garcia-Roza (2000, p. 165-168) e de Schultz e Schultz (1992, p. 325-326).

[6] Para maior detalhamento da vida, obra e desenvolvimento de Helmholtz, Fechner e Wundt (além de outros pioneiros da psicologia), sugiro ao leitor o livro utilizado aqui de Schultz e Schultz (1992, p. 61-64 e 66-88).

[7] Uma dessas referências é no prefácio à primeira edição de Totem e tabu (FREUD, 1913/1996), onde aponta a obra de Wundt como uma das primeiras inspirações para escrever seus ensaios de aplicação da psicanálise aos problemas sociais (a outra, veio de Jung). Depois, nos ensaios II e III, fará menção a Wundt sobre os significados do tabu (discordando sobre sua essência no medo dos demônios, mas concordando com a derivação do tabu de pessoas mortas do medo da alma dos mortos) e sobre animismo e magia. O tratamento é muito respeitoso, mostrando ter Wundt como um autor importante nestes temas ao menos.

[8] Sendo o “Projeto” um rascunho, extrato da correspondência de Freud com Fliess, ele não tem título originalmente. O utilizado nesta tese o título que foi conferido por James Strachey. Também é chamado por vezes de “Psicologia para neurologistas”, por ser como Freud (1986) se referiu ao mesmo na carta de 27 de abril de 1895 para Fliess. Dado o contexto que foi exposto aqui, penso que a escolha de Strachey é bastante feliz.

[9] Para a interessantíssima história de como a princesa recuperou e resguardou a correspondência com Fliess, nela incluída o “Projeto”, para que pudéssemos ler seu rico conteúdo, ver Gay (2012, p. 613-615) e Bezerra Jr. (2013, p. 23-26). Freud travou uma delicada batalha com sua amiga e ex-paciente para que o material fosse queimado; porém, a mulher que enfrentou a Gestapo por esses documentos, facilmente venceu seu mestre também.

[10] Certamente, não é uma posição única: o maior exemplo talvez seja Winnicott, que postulava fontes e entrelaçamentos biológicos com a vida psíquica, usando inclusive a expressão, título de um de seus livros, “natureza humana” (BEZERRA JR., 2013). De uma maneira geral, a escola britânica de psicanálise parece fazer um contraponto à interpretação antinaturalista.

[11] Filósofo estudioso de Aristóteles e da psicologia empírica, ex-padre, desejava fazer da psicologia uma ciência. Para mais informações sobre Brentano e sua possível influência no conceito de representação em Freud, há o artigo de Cataldo-Maria e Winograd (2013), e os livros de Garcia-Roza (2004b, p. 55-59; 2004, cap. 8), Gay (2012, p. 46-48), Roudinesco (2016, p. 37-39) e Schultz e Schultz (1992, p. 93-95).

[12] Com orgulho, Freud destaca que Weltanschauung é uma palavra exclusiva da língua alemã e de difícil tradução. Nas palavras do próprio, seria “[...] uma construção intelectual que soluciona todos os problemas de nossa existência, uniformemente, com base em uma hipótese superior dominante, a qual, por conseguinte, não deixa nenhuma pergunta sem resposta e na qual tudo o que nos interessa encontra seu lugar fixo” (FREUD, 1933/1996, p. 155). Geralmente, é traduzida por “visão de mundo” ou “cosmovisão”.

[13] É muito interessante se confrontarmos essas afirmações de Freud na referida conferência com as instigantes críticas de Karl Popper (POPPER, 1987) sobre a psicanálise (que ofende tantos psicanalistas): o filósofo justamente critica a psicanálise, dentre outras coisas, de não permitir questionar a si mesmo, a impossibilidade de falseabilidade da psicanálise. Mas isso é assunto para outro debate.






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